por Eduardo Costa
Diante do alarmante índice de emissão de CO₂ e da crescente preocupação com a administração dos recursos naturais, novas tecnologias buscam soluções eficientes e sustentáveis para proporcionar uma melhor qualidade de vida e reduzir os níveis exacerbados de desperdício e poluição. Um grande contribuinte para os altos níveis de emissão de dióxido de carbono é o setor de transporte, que representa cerca de 15% das emissões de gases do efeito estufa no mundo e, no Brasil, é responsável por 45% das emissões, de acordo com o Relatório Anual do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA).
Na busca incessante por soluções viáveis, mais uma vez os carros elétricos ganharam destaque no segmento automobilístico; no entanto, essa tecnologia ainda enfrenta resistência de parte da população, que está fortemente associada à “ansiedade de autonomia” e ao tempo gasto nas recargas.
Visando a redução do tempo de carregamento e da “ansiedade de autonomia”, além do aumento da eficiência dos veículos, a empresa israelense Electreon está desenvolvendo um projeto ambicioso que apresenta resultados promissores para as próximas etapas. Juntamente com governos europeus, asiáticos e o governo americano, a empresa tem desenvolvido estradas capazes de recarregar veículos elétricos por indução enquanto eles trafegam normalmente pelas vias adaptadas.
O princípio de funcionamento é semelhante ao dos celulares que carregam sem a necessidade de um cabo. Para as estradas, foram implantadas bobinas de cobre sob o asfalto; essas bobinas, que estão ligadas à rede de transmissão elétrica, transferem energia para um receptor alocado na parte inferior do veículo, com base na indução de ressonância magnética. Assim, os veículos podem recarregar enquanto trafegam rumo ao seu destino.
A Electreon estima, com base nos testes realizados na Suécia, que a potência de carregamento seja de 35 kW por receptor. Em um caminhão com carga, equipado com três receptores a 80 km/h, o potencial estimado é de 100 kW estáveis. Essa aplicação ampliaria consideravelmente a autonomia dos veículos elétricos, incentivando a compra de modelos que não fossem completamente dependentes de combustíveis fósseis, uma vez que essa tecnologia, juntamente com postos de carregamento estratégicos, reduziria significativamente o receio de ficar sem bateria durante uma viagem longa.
Apesar das preocupações do público com a infraestrutura, a Electreon afirma que a adaptação é discreta, com apenas algumas bases na lateral da pista em intervalos regulares, o que, de modo geral, não afeta a qualidade do asfalto e não interfere na utilização da rota por outros veículos não adaptados.
Entre os destaques dessa tecnologia estão o trecho em Detroit, Michigan, onde uma rua foi eletrificada, e uma estrada de 1,6 km na Suécia que conecta a cidade de Visby ao aeroporto local. Esses foram os primeiros locais de teste; porém, a Suécia planeja expandir gradativamente o projeto para alcançar mais de 2.000 km de rodovias elétricas, como parte de sua meta de neutralidade de carbono até 2040. Outros países europeus têm propostas semelhantes, como a Alemanha, que pretende aplicar a tecnologia nas rodovias federais, e a França, que visa ter 8.850 km de estradas eletrificadas até 2035, segundo a BBC News.
Embora o projeto mostre grande potencial, ele ainda apresenta alguns desafios, como o alto custo. A instalação do projeto na Suécia custou cerca de 11 milhões de euros, e estima-se que os próximos custarão aproximadamente 1,25 milhão de dólares (ou cerca de 1,14 milhão de euros) por quilômetro, o que representa uma redução significativa. Ainda assim, o CEO da Electreon acredita que os custos continuarão a cair com a ampliação da tecnologia. Outra estratégia para reduzir despesas é a aplicação em locais estratégicos, como semáforos, pontos de táxi e rotas de ônibus, portas de escola, pedágios e outras áreas onde os veículos permanecem por mais tempo sobre a mesma parte da via.
O professor de eficiência energética do Instituto Federal da Bahia, campus de Vitória da Conquista, Luis Alves Correia Filho, ressalta a importância de considerar as perdas que podem ocorrer nas linhas de transmissão que energizam essas bobinas: “Do ponto de vista de eficiência energética, alguns pontos também devem ser considerados no que diz respeito a essa tecnologia. Pelo fato de essas bobinas serem estendidas por quilômetros de rodovias, é necessário levar em conta as perdas ôhmicas que ocorrerão devido à linha de transmissão que alimentará essas bobinas”, explica o professor.
Tratando-se de uma tentativa de ampliar a eficiência e reduzir as emissões, é essencial atentar para o consumo energético e a origem da energia utilizada no carregamento dos veículos. Para que o projeto seja realmente sustentável, a fonte de energia deve ser limpa; afinal, o mundo ainda enfrenta desafios críticos relacionados à geração de energia elétrica com menor impacto ambiental. Segundo a BBC Future, análises do governo sueco indicam que uma estrada elétrica com 250 a 300 km em rotas movimentadas pode reduzir as emissões de dióxido de carbono de caminhões em mais de 200 mil toneladas.
O carregamento por indução representa uma promessa significativa para o futuro da mobilidade elétrica mundial. Com mais avanços tecnológicos e planejamento, mesmo que sua aplicação seja fracionada em pontos estratégicos ou rotas especificas, sua contribuição para as metas globais de sustentabilidade e descarbonização é iminente.
Enquanto essa maravilha tecnológica ainda parece um pouco distante, o avanço na infraestrutura para veículos elétricos já é uma realidade em Vitória da Conquista-Ba. Eletropostos são distribuídos em locais como a Solarchio, Supermercado Santo Antônio, Jade Nissan e o Ibis Hotel, sendo o da Jade Nissan totalmente gratuito. Além disso, com a chegada da Concessionaria BYD à cidade, a tendência é que o número de pontos de carregamento continue a crescer, facilitando cada vez mais o acesso e a adesão à mobilidade elétrica.
Gostou do conteúdo? Caso tenha interesse e queira saber mais sobre o assunto, confira a publicação “As ruas e estradas que carregam carros elétricos durante o movimento” – na BBC Future, ou visite o site da empresa Electreon: https://electreon.com/technology/faqs. Não deixe de ler as nossas matérias semanais inéditas, que, com certeza lhe ajudará em vários aspectos. Visite também o nosso Instagram @inqportal e se quiser nos enviar alguma sugestão, esse é o nosso e-mail: inq.vdc@ifba.edu.br