InQ.IFBA Portal da Inovação & Qualidade
por Jonas Souza
Fonte: Imagem Gerada por IA
Vivemos em um mundo onde cada clique, busca online a interação em redes sociais, deixando um rastro de dados. A promessa de conectividade e personalização que a tecnologia oferece, esbarra em uma realidade incômoda: nossos dados pessoais são moedas de troca invisíveis, muitas vezes coletados, analisados e comercializados sem nosso consentimento pleno. Enquanto aproveitamos a praticidade de serviços como entregas por aplicativo, streaming personalizado ou assistentes virtuais, raramente paramos para questionar quem realmente controla essas informações — e como elas podem ser usadas (ou abusadas) no futuro.
A coleta de dados vai muito além do que imaginamos. Plataformas como redes sociais e mecanismos de busca não armazenam apenas nossas preferências; elas mapeiam padrões de comportamento, localização geográfica, hábitos de consumo e até relações interpessoais. Algoritmos transformam essas informações em perfis detalhados, vendidos a anunciantes ou utilizados para influenciar decisões — desde o que compramos ou, até em quem votamos. O problema não está apenas na coleta, mas na falta de clareza sobre como esses dados são protegidos. Termos de serviço extensos e cheios de jargões técnicos tornam quase impossível para o usuário comum entender o que está cedendo.
Os vazamentos de dados são um lembrete constante dessa fragilidade. Em 2023, um relatório da Surfshark apontou que aproximadamente 110 milhões de contas foram violadas globalmente apenas no segundo trimestre, o equivalente a 1,2 milhão por dia. A situação piorou drasticamente em 2024, quando o número saltou para 5,6 bilhões de contas comprometidas, representando 176 violações por segundo ou impressionantes 15,2 milhões por dia. No Brasil, o cenário é igualmente alarmante, com um aumento de 2.322% nas violações em 2024, totalizando 84,6 milhões de contas comprometidas.
Empresas de tecnologia frequentemente enfrentam desafios de segurança. A Meta, por exemplo, implementou medidas preventivas em seu sistema de verificação para evitar fraudes de identidade, enquanto o Twitter (agora X) enfrentou falhas operacionais significativas em 2023 que impactaram milhões de usuários. O risco não se limita a ataques de hackers: governos utilizam tecnologias de vigilância enquanto empresas criam pontuações baseadas em comportamentos online. A privacidade, nesse contexto, deixa de ser um direito individual para se tornar um privilégio escasso.
Fonte: Imagem Gerada por IA
Diante desse cenário, iniciativas como o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR) na Europa e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil surgem como tentativas de equilibrar a balança. Um estudo comparativo entre as duas legislações revela que a LGPD estabelece 10 bases legais para tratamento de dados no Brasil, contra 6 na União Europeia, demonstrando abordagens distintas para o mesmo desafio. Essas leis obrigam empresas a informarem como os dados são usados, permitindo que usuários os excluam ou bloqueiem seu acesso. No entanto, a aplicação ainda é irregular, como evidenciado pelo aumento exponencial de violações mesmo após a implementação dessas regulamentações.
Paralelamente, ferramentas como navegadores anti-rastreamento, redes VPN (Virtual Private Network), ou Rede Privada Virtual e serviços de monitoramento como o Surfshark Alert ganham popularidade, refletindo uma busca crescente por autonomia digital. Estas soluções permitem que usuários sejam notificados quando seus dados são comprometidos, oferecendo uma camada adicional de proteção em um ambiente digital cada vez mais hostil.
A verdade é que a privacidade na era digital exige mais do que regulamentações ou ferramentas técnicas: demanda uma mudança cultural. Enquanto ensinamos crianças a não falar com estranhos na rua, precisamos também educá-las sobre os perigos de compartilhar detalhes íntimos online. Como indivíduos, é urgente repensar nossa relação com a tecnologia — questionar quais dados valem a pena ceder e quais serviços realmente merecem nossa confiança. Afinal, em um mundo hiperconectado, proteger a privacidade não é apenas sobre segurança; é sobre preservar a liberdade de ser quem somos, sem vigilância constante.
Gostou do conteúdo? Não deixe de ler as nossas matérias semanais inéditas, que, com certeza lhe ajudará em vários aspectos. A seguir temos algumas referências, caso qieira aprofundar o seu conhecimento no tema. Visite também o nosso Instagram @inqportal e se quiser nos enviar alguma sugestão, esse é o nosso e-mail: inq.vdc@ifba.edu.br
Referências:
Surfshark. Annual Wrap-up 2023. Disponível em: https://surfshark.com/blog/annual-wrap-up-2023.
TI Inside. 84,6 milhões de contas violadas no Brasil em 2024. Disponível em: https://tiinside.com.br/06/02/2025/846-milhoes-de-contas-de-usuarios-foram-violadas-no-brasil-em-2024/.
Contábeis. Alerta: 110 milhões de contas vazadas em 2023. Disponível em: https://www.contabeis.com.br/noticias/60708/alerta-110-milhoes-de-contas-ja-foram-vazadas-no-mundo-em-2023/.
Convergência Digital. Violação de dados cresce 24 vezes no Brasil. Disponível em: https://convergenciadigital.com.br/internet/violacao-de-dados-cresce-24-vezes-no-brasil-e-supera-84-milhoes-de-contas-comprometidas/.
