Por: Walmária Caires
No livro, A morte é um dia que vale a pena viver, a autora nos coloca em contato com a morte de uma forma bastante clara, sem metáforas ou qualquer disfarce. A morte como ela é ou como deveria ser: natural, certeira e sem atalhos.
Em alguns trechos, a leitura é impactante, até mesmo cruel. Razão pela qual tive dúvida em indicar o livro. Seria essa uma leitura apenas para “os fortes”? Concluí no final que o enfrentamento é sempre a escolha mais acertada, seja o enfretamento à certeza da finitude ou ao luto por àqueles que amamos e partem antes de nós.
Enfrentar nos prepara, nos educa e nos fortalece. A fuga não nos livra de nenhum sofrimento, apenas prolonga, prorroga ou nos adoece. A autora, Dra. Ana Claúdia Arantes, geriatra, poderia nos acalentar com o que esperamos dessa especialidade médica: falar sobre tratamentos, vitaminas ou pesquisas que nos apresentem a eterna juventude, a cura de doenças senis, ou como prolongar a vida. Certamente seria um conteúdo mais fácil de digerir. Não, ela preferiu ir além e assim contribuiu com seu livro esclarecedor e real para que tenhamos mais zelo com nossos dias, com nossa vida.
A leitura propõe o quanto é possível um novo olhar, uma nova postura para nossa vida, e a de quem amamos, para que possamos não apenas viver dignamente, mas também, assim morrer. A autora, além de acompanhar pacientes em fase terminal, coordena os cursos de formação com práticas de ensino em cuidados paliativos. Através do exercício de cuidar dos pacientes e familiares, vivencia diariamente experiências enriquecedoras de aprendizagem e compaixão. Com muita coragem, a médica nos alerta sobre o conteúdo dos cursos de medicina e da área de saúde, que não preparam os estudantes para este momento que requer tanto entendimento, tanto amor e muito mais que empatia, a lidar com o paciente prestes a morrer. O livro nos leva a reflexões importantes, mas o melhor de tudo: nos convida insistentemente a mudanças de paradigmas e aproveitar plenamente cada dia de vida. Um trecho marcante do livro é quando diz: “a morte é um ato sagrado não apenas para os humanos comuns, mas todos os lideres espirituais, a exemplo de Jesus e Buda, também morreram”.
Imortal mesmo é o amor que sentimos, a fé, as lembranças e as experiências compartilhadas com afeto.