por Rennan Ribeiro
A virada do século XXI trouxe consigo uma crescente conscientização sobre a crise climática. Na vanguarda desta discussão, encontra-se o setor de transportes, historicamente um dos maiores contribuintes para as emissões de gases de efeito estufa. Nesse contexto, a última década presenciou o surgimento e a popularização dos veículos elétricos (Electrical Vehicles – EVs) como a promessa de um transporte mais limpo e sustentável. Os EVs, ao contrário de seus homólogos movidos à gasolina, não emitem gases poluentes diretamente na atmosfera, posicionando-os como uma solução ideal no combate às mudanças climáticas.
No entanto, o panorama global é mais complexo do que aparenta. Em 2020, a Tesla, um dos principais nomes no universo dos EVs, anunciou um recorde de vendas de mais de 500.000 veículos. Paralelamente, notícias emergiam sobre a poluição decorrente da mineração de lítio, componente crucial para as baterias dos EVs, em regiões como a América do Sul. Ainda mais crítico é refletir sobre a origem da energia que alimenta esses carros. Em países que ainda dependem fortemente de combustíveis fósseis para a geração de eletricidade, como a China, os benefícios ecológicos dos EVs podem ser ofuscados.
Para muitos, o apelo dos EVs é simples: eles não emitem gases poluentes. No entanto, essa visão é apenas parcialmente correta. Se a eletricidade que carrega um EV provém de uma fonte poluente, como uma termelétrica a carvão, a redução das emissões de carbono pode ser marginal ou até mesmo negativa. Por exemplo, a China, em sua missão de liderar o mercado global de EVs, também é um dos maiores produtores de eletricidade a partir de carvão no mundo. Assim, um carro elétrico rodando em algumas regiões da China pode, indiretamente, ser responsável por emissões comparáveis a um veículo a gasolina.
Nos países desenvolvidos, há uma tendência crescente para a adoção de fontes de energia renováveis. Países como a Alemanha e a Dinamarca têm feito progressos significativos na integração da energia eólica e solar em suas matrizes. Em contraste, muitos países em desenvolvimento ainda confiam fortemente em fontes de energia mais poluentes, fazendo com que a transição para os EVs nesses locais possa não oferecer os benefícios ecológicos esperados. A verdadeira sustentabilidade dos carros elétricos será determinada pelo ritmo global de transição para fontes de energia limpa. À medida que países em todo o mundo reconhecem a urgência da crise climática, espera-se um investimento crescente em tecnologias de energia renovável.
Um exemplo notável nesse cenário é a Noruega, que emerge como um paradigma no cenário global de mobilidade elétrica. Em 2020, quase 75% dos carros novos vendidos no país eram elétricos ou híbridos plug-in. Uma razão fundamental para o sucesso dos EVs na Noruega é a sua matriz energética verde, com aproximadamente 98% da eletricidade do país sendo gerada a partir de fontes hidrelétricas. O governo norueguês também tem desempenhado um papel proativo na promoção de EVs, com diversos incentivos que catalisaram a rápida adoção de EVs no país. No entanto, a jornada da Noruega não esteve isenta de desafios, como a demanda crescente por infraestrutura de carregamento.
Por fim, torna-se claro que os carros elétricos representam um passo significativo na busca por soluções mais verdes e sustentáveis para o transporte. No entanto, a real sustentabilidade de um carro elétrico está intrinsecamente ligada à matriz energética da região onde é utilizado. A experiência da Noruega ilustra o poder transformador de alinhar a adoção de EVs com uma matriz energética predominantemente limpa, servindo como um lembrete de que a eficácia dos EVs em termos de sustentabilidade é fortemente influenciada pela forma como a energia que os alimenta é gerada.
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