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Anotações sobre a trajetória de uma pesquisadora: da gênese da pesquisa à publicação do livro.

 

por: Gilneide Padre

 

 

Desde 2012, participamos do grupo de pesquisa do Museu Pedagógico/Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) Memória Geracional, Políticas Educacionais e Trajetórias Sociais, que tem como eixo temático os processos ditatoriais no Brasil e sua incidência mais direta sobre professores(as), estudantes e políticas educacionais na Bahia. No levantamento de fontes documentais sobre os desaparecidos políticos durante a ditadura militar, organizadas por esse grupo de pesquisa, deparei-me com um nome muito significativo: Dinaelza Coqueiro. Embora se tratasse de uma história pouco mencionada na minha família, eu sabia que Dinaelza era um ente familiar muito próximo, e ver o seu nome naqueles dados trouxe-me muita inquietação. Julguei importante pesquisar a sua história de vida e luta política. Debruçando-me sobre a sua biografia, muitos questionamentos foram se organizando, sobretudo a respeito da não evocação do assunto nos encontros familiares, os sentimentos e impressões dos parentes mais próximos sobre o ocorrido ou, ainda, sobre a trajetória de busca do seu corpo insepulto.

Dinaelza Coqueiro, suas irmãs e seu irmão são meus primos de segundo grau. A mãe delas, Junília Soares Santana, era irmã do meu avô, Manoel Soares de Oliveira. Somente tive conhecimento do desaparecimento da nossa prima quando cheguei em casa, anos atrás, com um documento do Diretório Acadêmico da minha Faculdade cujo nome era Diretório Acadêmico Dinaelza Coqueiro. Ao ver o documento sobre a mesa, minha mãe perguntou-me do que se tratava e me disse que aquele era o nome de uma prima que havia desaparecido na Guerrilha do Araguaia junto ao esposo. Curioso é que esse fato nunca antes havia sido mencionado em nossas conversas. Nasceram ali indagações que, muito tempo depois, direcionariam meu objeto de pesquisa no doutorado. O tema sobre desaparecidos políticos sobre o qual discutíamos no grupo circundava a minha memória e me instigava a buscar respostas.

O interesse pelo assunto levou-me ao encontro com as suas irmãs. Estavam em Vitória da Conquista as irmãs Diva, Dilma e Dirceneide Santana para visitas aos familiares, quando tive a oportunidade de conhecê-las na casa de uma tia. Passamos uma tarde agradável, em que pudemos conversar sobre acontecimentos marcantes para aquele núcleo familiar. Acontecimentos, até então, não comentados por tios, tias, primos ou primas. Participaram da conversa uma tia (irmã da mãe de Dinaelza, de 92 anos), um primo (de faixa etária próxima a das irmãs) e outros familiares, que ali estavam para visitar as parentas. Naquele encontro, pude constatar o desconhecimento dos familiares quanto à história vivida por elas no período ditatorial e pós-ditatorial. Foi inevitável, após essa conversa inicial, a reorientação do nosso projeto de pesquisa original para o estudo desse caso.

Assim, durante o doutoramento em Memória: Linguagem e Sociedade, da UESB, desenvolvemos a pesquisa que resultou na tese “Do corpo insepulto à luta por memória, verdade e justiça: um estudo do caso Dinaelza Coqueiro”. Essa tese deu origem ao livro de nossa autoria, de mesmo título.

Analisar o processo que permeia a busca do corpo insepulto de Dinaelza Santana Coqueiro, a memória da sua trajetória e a luta empreendida por seus familiares para encontrar o seu paradeiro, associados às políticas de memória que vão ganhando visibilidade no Brasil, desde 1979, com a promulgação da Lei de Anistia, foi o objetivo da nossa pesquisa de doutorado que resultou no livro.

Dinaelza Santana Coqueiro, estudante conquistense desaparecida no período da ditadura militar na Guerrilha do Araguaia, filha de Junília Soares Santana e Antônio Pereira de Santana, era a terceira dos seis filhos do casal, que tinha também Diva, primeira filha, Dilma, segunda, Dinorá, quarta, Dirceneide, quinta, e Getúlio, o sexto filho. Diná, como era chamada pelos familiares, era casada com Vandick Reidner Pereira Coqueiro, estudante de Economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Após militarem no movimento estudantil, em Salvador, seguiram para uma “tarefa especial” do Partido Comunista do Brasil (PC do B), partido ao qual estavam ligados. Mais tarde, a família tomou conhecimento de que a “tarefa especial” tratava-se, na verdade, da Guerrilha do Araguaia, na qual combateram, tombaram e desapareceram. Desde o final da década de 1970, seus familiares vêm empreendendo incessante luta em busca do seu corpo insepulto.

Avaliamos que entender os processos que envolvem a constelação da busca pelo corpo insepulto, no caso Dinaelza Coqueiro, tanto do ponto de vista político como familiar, em sua dialética, é compreendê-lo no contexto da luta pelos direitos humanos em sua dimensão parental, estatal e social. Partindo dessa compreensão, no desenvolvimento da nossa investigação, lançamos mão de fontes orais, escritas e iconográficas. Apoiamo-nos em duas vertentes da memória em sua dialética: uma memória relacional à sua conjuntura, a memória social; onde comparecem as categorias  “políticas de memória”, “memória da política”, “dever de memória”, “memória oficial” e “memória pública”; a outra, de cunho mais restrito, que refere-se à memória de grupos específicos, à memória coletiva; onde constatamos a ocorrência das categorias “memória familiar”, “memória biográfica” e “memória coletiva do grupo de familiares dos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia”.

 A nossa pesquisa mostra que falar de Dinaelza Coqueiro implica situá-la num emaranhado de memórias que se entrelaçam. Como resultado das análises verificamos que buscar o corpo insepulto é mais do que buscar ossos, despojos. Trata-se de um processo de recuperação de memória. Processo que se situa numa arena de conflitos onde se disputa a memória do período ditatorial no Brasil.

 

Sobre Mayara Alexandreø

Graduanda em Engenharia Elétrica pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFBA) - Campus Vitória da Conquista; Fez parte do Diretório Acadêmico de Engenharia Elétrica (DAEE) do IFBA; Fez parte do grupo de pesquisa Sistemas de Hardware e Software do Instituto Federal da Bahia; Atualmente faz parte do grupo de pesquisa Sistemas Complexos da instituição; Colunista voluntária do Portal da Inovação e Qualidade do IFBA (https://inq.conquista.ifba.edu.br/v1/); Bolsista da CNPq na modalidade Iniciação Tecnológica.
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