por Beatriz Lourenço
A palavra francesa déjà-vú significa “já visto” e é utilizada para descrever situações em que sentimos já ter vivido uma certa experiência, como se um momento passado se repetisse. Nesses casos, é comum pararmos o que estamos fazendo e apenas nos situarmos no tempo, tendo a impressão de saber exatamente o que acontece, segundo após segundo, até a sensação passar.
Estudos realizados em países da Europa e nos Estados Unidos indicam que pelo menos dois terços das pessoas já passaram alguma vez por essa experiência, muitas vezes associada à viagem no tempo e à misticidade. Ainda não há uma explicação científica válida para a ocorrência dos déjà-vus, apesar das inúmeras teorias que tentam explicá-lo, tanto no campo científico quanto no empírico, como é o caso da teoria de que a lembrança vem de vidas passadas.
Nos anos 40, o estudante americano Morton Leeds analisou a finco a ocorrência e possíveis causas cientificamente justificáveis dos déjà-vus, uma vez que ele possuía uma média de 1 déjà-vu a cada 2,5 dias. A partir dos dados colhidos, Leeds concluiu que, na maioria das vezes, os eventos ocorriam em momentos de stress. Já Chris Moulin, psiquiatra da Universidade de Leeds na Inglaterra, procurou por pessoas que possuíssem médias de ocorrências de déjà-vú ainda maiores do que as de Morton Leeds, e afirma ter encontrado pessoas que diziam viver num looping de déjà-vus, onde absolutamente tudo o que acontecia parecia predefinido.
Um estudo apresentado na Conferência Internacional da Memória, que ocorreu em Budapeste, no ano de 2016, considera o déjà-vu vinculado a um tipo de falha no processamento da memória. O coordenador do estudo, Akira O’Connor, psicólogo e neurocientista, chegou a esse resultado através de pesquisas realizadas com um grupo de 21 voluntários, que foram induzidos a repetir o momento através de estímulos com palavras-chave que remetiam a situações específicas com o tema “dormir”. Palavras como noite, travesseiro, deitar e sonho foram utilizadas. O resultado foi a inferência de grande parte dos voluntários de terem ouvido a palavra “dormir”, mesmo ela não tendo sido citada. Quando questionados se haviam ouvido palavras que começavam com a letra “d”, todos negaram. Porém, afirmaram que como já haviam dito anteriormente que tinham tido a impressão de ouvir a palavra “dormir”, o momento pareceu ter se repetido, comprovando a existência de uma memória falsa.
Através de ressonâncias magnéticas, os cientistas que participaram do estudo observaram que o cérebro consegue notar a existência de uma falsa memória, e o déjà-vu se torna uma consequência ao tentar consertar o “bug” que ocorreu na memória. Assim, a pesquisa aponta para o fator positivo de que o nosso cérebro consegue reconhecer as falhas e tenta corrigi-las imediatamente. Dentro dessa perspectiva, a tendência é que as pessoas que nunca passaram pela experiência de um o déjà-vu não possuam falhas de memória.